Nesta região do interior, tão afastada do mar, separada de Espanha apenas por uma ténue linha imaginária, quantas vezes recheada de episódios pitorescos com amigos, nuestros hermanos, tantas vezes desavindos e tantas vezes abraçados em cumplicidades de relações; nesta região esquecida, porque muito afastada dos poderes centrais de cada lado da fronteira… Aqui, foram os homens obrigados a enfrentar grandes dificuldades, muitas vezes torneando umas para defrontar outras: fugir do magro sustento da agricultura levou muitos à grande aventura que foi o contrabando e à sangria da emigração.

Conseguir alimentos é uma tarefa tanto mais exclusiva das actividades humanas, quanto menor é o grau de industrialização e de desenvolvimento de uma sociedade. Pouco desenvolvidas e com fraca industrialização, obrigadas a conseguir alimentos para todo o ano, as comunidades foram desenvolvendo técnicas que lhe permitissem conservar os produtos e os excedentes de modo a que, entre duas colheitas, não faltassem. Mas, se obter os produtos agrícolas em muito dependia da natureza – e esta ditava a regra de um produto, uma colheita uma vez ao ano -, em relação à domesticação dos animais para consumo da carne, nomeadamente de porco, o homem é que decidia quando é que queria usufruir do seu consumo.

A matança do porco constituiria um momento de abundância de carne se o porco apenas servisse o propósito imediato de suprir as carências instantâneas. Cedo, no entanto, o homem foi criando formas de conservar a carne, repartindo o seu consumo ao longo do ano. O presunto, os enchidos (chouriço, morcela, farinheira, bucheira, salpicão, bucho, etc.), a carne e os ossos na salgadeira são um expediente de que o homem se serviu para garantir a conservação e posterior consumo dos produtos do porco durante o ano (no dizer popular: ‘uma missa e um marrano dão para todo o ano’).

Ao longo do tempo, cada comunidade criou especificações locais na conservação dos alimentos, conferindo-lhes identidades gastronómicas próprias, distintivas e identitárias. No Sabugal, os enchidos e, sobretudo, o bucho – pela singularidade da carne do porco, forma de o cevar e pela tradição e técnica de o confeccionar -, resultou num produto de excelência gastronómica, cujo consumo proporcionava à família alargada um momento único de confraternização.

A pastorícia de ovinos e caprinos permitia, igualmente, um reforço alimentar através do leite, dos borregos e cabritos.

A maioria das casas dos lavradores também não dispensavam a criação de galinhas e de coelhos, suplementos alimentares que se podiam distribuir ao longo do ano, complementados com a caça e a pesca

De tudo isto resultou uma gastronomia particular de que destacamos:

  • Os enchidos;
  • Os caldos (sopas): caldo de vagens secas, caldo escoado, sopa seca, sopa de couve, caldo das matanças, canja de cornos, caldo de gravanços, caldudo, etc.
  • O cabrito e o borrego
  • Cabrito na brasa
  • Coelho bravo
  • Javali
  • Truta do Rio Côa
  • Queijos

Na Gastronomia doce temos:

  • Arroz Doce
  • Filhós
  • Farófias
  • Bolo Saloio
  • Biscoitos “Os Esquecidos”
  • Papas de Milho
  • Tapioca
  • Mel

Deleite-se na surpresa dos sabores e SURPREENDA OS SENTIDOS!